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Estimulação Magnética Transcraniana no Autismo

Atualizado: 8 de dez. de 2022

Imagine o que é passar os primeiros 40 anos de sua vida na escuridão, cego às emoções e sinais das outras pessoas. E então alguém subitamente acende as luzes. Conheça a história de John Elder Robison e a Estimulação Magnética Transcraniana.



Transcrição do texto no vídeo





Esse senhor, John Robison, tem uma forma mais leve de autismo, a forma de Asperger. Apesar dele ter inteligência acima da média, essa condição lhe tornava incapaz de perceber o estado emocional dos outros, ele não conseguia responder, ao olhar para alguém, se a pessoa estava alegre ou triste, ansiosa, com medo, interessada ou entediada. Isso faz com que o autista pareça uma pessoa estranha. Você sorri para ele e ele não sorri de volta, não porque ele não tenha emoções, mas porque ele não desenvolveu a linguagem das emoções..

No ano de 2008, o Neurologista Álvaro Pascual Leone, da Faculdade de Medicina de Harvard, imaginou que essa capacidade estivesse presente, porém adormecida, suprimida, no cérebro do autista, e convidou o Sr Robison para uma tentativa de ativá-la com o procedimento de Estimulação Magnética Transcraniana.


E a expectativa do Dr Pascual Leone se confirmou. Depois de 17 sessões, o Sr Robison passou a ser capaz, aos 40 anos de idade, pela primeira vez na vida, de enxergar o estado dos outros. A experiência teve um impacto tão grande na vida do Sr Robison que o levou a escrever um livro.

O título do livro, ainda não traduzido para o português, é “Switched On”, algo como “Ligaram meu interruptor “.


A EMT é cada vez mais usada, no Brasil, para tratamento de depressão e de algumas formas de dor crônica. Em autismo ela é ainda experimental, mas o caso do Sr. Robison, apesar de isolado, ilustra de maneira impressionante o seu potencial.

Meu nome é Edrin, eu sou Neurologista e faço parte de uma equipe que promove o treinamento de médicos e pesquisadores em Estimulação Magnética Transcraniana.

Essa capacidade de “ler o estado emocional” das pessoas, ou empatia cognitiva, é o que chamamos de uma “função cognitiva superior”, que exige combinar informações de áreas distantes do cérebro, de diferentes sentidos. No cérebro do autista, essa capacidade de conectar e ativar áreas distantes do cérebro está bastante reduzida. Já a capacidade de ativar e conectar áreas próximas do cérebro é aumentada no autismo.


Essa imagem é de um trabalho do pesquisador Matthew Belmonte, de Cambridge, publicado no Journal of Neuroscience em 2004. As imagens mostram a ativação de um cérebro com autismo e sem autismo submetidos ao mesmo tipo de estímulo. Vejam como múltiplas regiões do cérebro são ativadas na imagem à esquerda e como apenas uma região é ativada intensamente no cérebro do autista, à direita.

Imagine que no cérebro do autista existam “estradas estreitas e com barreiras” conectando áreas distantes do cérebro e avenidas largas e livres conectando áreas próximas. Os pesquisadores chamam isso de hiperconectividade local e hipoconectividade à distância.

O que define se uma estrada é estreita ou larga, se é livre ou com barreiras, é a junção entre neurônios, chamada de sinapse, que é o ponto em que neurônios se encontram. A sinapse é “programável” eletricamente. É assim que funciona nossa memória. Pode-se dizer que as nossas memórias são sinapses “reforçadas”.


Tudo que você capta pelos sentidos chega a sua consciência na forma de impulsos elétricos e fica armazenado porque as sinapses percorridas durante a percepção ficaram fortalecidas.

Esse processo de reforçar ou enfraquecer as sinapses a partir de impulsos elétricos envolve uma sequência de eventos que já são bastante estudados e que estão representados na sinapse aqui ao lado. O processo de consolidação celular da memória.

O que define se uma memória será transitória ou duradoura é principalmente o padrão e a repetição dos pulsos elétricos que desencadeiam esse processo.

A sincronia entre vários neurônios de uma via também é muito importante. Os pesquisadores da memória costumam dizer: “Neurônios que disparam juntos se interconectam”.


A EMT age por induzir no cérebro correntes elétricas controladas e localizadas em um padrão que procura imitar os padrões que nosso cérebro usa para gerar memória.

Com isso a EMT consegue “regular sinapses” de uma região do cérebro.

No caso da capacidade de “ler as pessoas”, são muito importantes as sinapses de uma região do cérebro que fica na encruzilhada entre áreas visuais, auditivas e sensoriais, conectando essas áreas distantes, é a chamada região temporo-parietal direita. E foi essa a área estimulada pelo Dr Pascual Leone no Sr Robison

Vejam a seguir o próprio Robison falando a um grupo por ocasião de uma sessão de promoção de seu livro.


Atenção

A EMT é ainda considerada experimental no autismo. Protocolos de EMT aplicados em região têmporo-parietal direita estão atualmente em investigação na Universidade de Deaekin, na Austrália, sob responsabilidade do pesquisador Peter Enticott. Não temos notícia de pesquisa similar em andamento no Brasil.




Referências:

1: Belmonte MK, Allen G, Beckel-Mitchener A, Boulanger LM, Carper RA, Webb SJ. Autism and abnormal development of brain connectivity. J Neurosci. 2004 Oct 20;24(42):9228-31. Review. PubMed PMID: 15496656.. Pubmed

2: Oberman LM, Enticott PG, Casanova MF, Rotenberg A, Pascual-Leone A, McCracken JT; TMS in ASD Consensus Group. Transcranial magnetic stimulation in autism spectrum disorder: Challenges, promise, and roadmap for future research. Autism Res. 2016 Feb;9(2):184-203. doi: 10.1002/aur.1567. Epub 2015 Nov 4. Review. PubMed PMID: 26536383; PubMed Central PMCID: PMC4956084.Pubmed


3: Ameis SH, Catani M. Altered white matter connectivity as a neural substrate for social impairment in Autism Spectrum Disorder. Cortex. 2015 Jan;62:158-81. doi: 10.1016/j.cortex.2014.10.014. Epub 2014 Nov 5. Review. PubMed PMID: 25433958. Pubmed





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