Até o momento, o maior estudo aberto com Magnetoconvulsoterapia (Daskalakis 2020) tratou 86 pacientes, comparando índices de remissão com MST a 25, 50 ou 100Hz, e obteve remissão em até 1/3.
Embora esses índices ainda estejam abaixo da remissão na faixa de 40 a 70% que se observa com eletroconvulsoterapia na depressão resistente ao tratamento, as perspectivas de melhor segurança cognitiva com a MST, além da redução de medo e estigma que limitam o alcance a ECT a menos de 1% dos pacientes com distúrbio de humor (0.25% em survey de Wilkinson 2018), motivam as pesquisas com o método.
Dois grandes estudos controlados que comparam a Magnetoconvulsoterapia (MST) com a Eletroconvulsoterapia estão em andamento:
Blumberger, University of Texas Southwestern Medical Center: conclusão prevista para Julho 2024, 260 pacientes (130 MST, 130 ECT).
ECT Unilateral direita ultra-breve a 6 vezes o limiar convulsivo
MST em córtex frontal com bobina Twin coil (layout em duplo cone com dimensões um pouco maiores que a duplo cone usada para TOC) tratados a 100Hz, 100% da potência, com duração de trem 4 segundos acima do limiar, até o máximo de 1000 pulsos.
Salih Selek, The University of Texas Health Science Center: conclusão prevista para Outubro 2024, 60 pacientes (30 MST, 30 ECT).
ECT 2 a 3semana até 15 sessões: a 6 vezes o limiar convulsivo (não há mais detalhes).
MST 2 a 3x/semana por até 15 sessões: MST aplicada sobre o vértex, com frequência titulada de 25 a 100Hz até o máximo de 1000 pulsos.
Antes de Daskalakis, alguns estudos com MST adotaram estimulação do Vertex a 100Hz em um máximo de 15 sessões. Daskalakis procurou explorar também frequências mais baixas, citando estudo com animais que sugeria a frequência de 22Hz como ótima para indução de crises, procurou extender o número de sessões para até 24 e optou por focar estimulação sobre o frontal ao invés do vértex.
Os pacientes tinham escore em HDRS24 acima de 21 (onde 19-22 corresponde a depressão severa e acima de 23 a muito severa) e não deveriam estar em uso de diazepínico na dose equivalente à de lorazepam 2ms (já que se suspeita que diazepínicos reduzam eficácia de tratamento com EMT).
Ao interpretar os resultados de Daskalakis, é importante ter atenção a dois fatores:
1. Houve uma diferença significativa entre os grupos, com menor refratariedade no grupo tratado a 100hz.
2. O dispositivo usado por Daskalakis não permitia número de pulsos acima de 500 na frequência de 25Hz. Como a dose terapêutica foi 3 vezes o limiar convulsivo, a maior parte do grupo a 25Hz (exceto aqueles que tinham convulsão com apenas 100 pulsos) recebeu uma subdose. Além disso, no grupo a 100Hz a intensidade não foi de 100%, já que o dispositivo tem desempenho sub-máximo acima de 60Hz, portanto as diferenças nos resultados podem ser fruto tanto da maior frequência como menor potência.
Resultados:
Entre os pacientes tratados, 86 completaram ao menos 8 sessões (100Hz=24, 50Hz=26, 25Hz=36) e 47 completarem o protocolo inteiro (até remissão ou 24 sessões).
O tempo médio para remissão foi de 15.71 sessões (± 5.76), o que sugere que o teto de 15 sessões dos estudos anteriores era insuficiente.
Entre os que completaram o protocolo, a remissão foi 53.8% (8/15 a 100Hz), 38% (5/13 a 50Hz) ou 21% (4/19 a 25Hz). Os índices de resposta foram 60% (9/15 a 100Hz), 53.8% (7/13 a 50Hz) ou 57.9% (11/19).
O Dr Moacyr Rosa relatou sua experiência em uma série de 10 pacientes submetidos a uma série breve (até 12 sessões) de MST com Frequências de 20Hz (J ECT 2022) usando o Neuro-MSD com bobina duplo-cone. Teve remissão em 20% (2/10). Além da amostra pequena, outro fator que limita a interpretação foi a variação no sítio de estimulação (vértex, pré-frontal, córtex motor à direita), já que havia também o objetivo de explorar as diferenças no limiar convulsivo entre esses alvos.
Com o Neuro-MSX e a bobina duplo cone refrigerada convencional, pode-se fazer MST a 35Hz com 100% da potência. É necessário, também, alterar ajustes na unidade de refrigeração, o que permite reduzir a temperatura da bobina até 5 a 7 graus e alcançar 1000 pulsos a 100% da potência, a dose máxima no estudo de Daskalakis.
Referências:
1. Daskalakis ZJ, Dimitrova J, McClintock SM, Sun Y, Voineskos D, Rajji TK, Goldbloom DS, Wong AHC, Knyahnytska Y, Mulsant BH, Downar J, Fitzgerald PB, Blumberger DM. Magnetic seizure therapy (MST) for major depressive disorder. Neuropsychopharmacology. 2020 Jan;45(2):276-282. doi: 10.1038/s41386-019-0515-4. Epub 2019 Sep 5. PMID: 31486777; PMCID: PMC6901571.
2. Wilkinson ST, Agbese E, Leslie DL, Rosenheck RA. Identifying Recipients of Electroconvulsive Therapy: Data From Privately Insured Americans. Psychiatr Serv. 2018 May 1;69(5):542-548. doi: 10.1176/appi.ps.201700364. Epub 2018 Feb 1. PMID: 29385954; PMCID: PMC6248332.
3. Rosa MA, Rodrigues RO, Nobre SS, Rosa MO. Feasibility of 20-Hz Magnetic Seizure Therapy in Patients With Major Depression in Brazil: A Case Series. J ECT. 2022 Oct 1. doi: 10.1097/YCT.0000000000000884. Epub ahead of print. PMID: 36215418.
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