Reflexo T com martelo eletrônico e Reflexo Massetérico
- Edrin Vicente
- 24 de abr.
- 4 min de leitura
Atualizado: 25 de abr.
O Reflexo-T é o registro miográfico da contração muscular que ocorre à percussão de tendões ou periósteo no exame dos reflexos de estiramento muscular (proprioceptivos), o que permite estudar latências, além de medir de maneira numérica a amplitude da contração e estudar assimetrias, abolição ou exaltação com mais precisão.
Diferente do Reflexo H, que é facilmente obtido apenas com estimulação elétrica de tibiais ou medianos, o reflexo T com um martelo eletrônico pode ser obtido na maioria dos músculos, mesmo aqueles não acessíveis à neurocondução convencional, além de avaliar a sensibilidade dos fusos neuromusculares. A percussão dos eretores espinais, por exemplo, evoca um reflexo de estiramento com 2 componentes, uma resposta precoce, R1, de natureza segmentar, e uma tardia, R2, de natureza supra-segmentar.
Embora a técnica seja antiga, com valores normais publicados desde os anos 70 (Frijns et al., 1997; Karam, 1977; Kimura et al., 1970), o método nunca se popularizou pois poucos fabricantes disponibilizam a custos acessíveis o martelo eletrônico e por não haver uma codificação que remunere a técnica por seu valor complementar no diagnóstico.
Aqui registramos padronização de técnica e valores normativos para o Reflexo T adquiridos pelo Dr Sergey Nickolaev com martelo eletrônico Neurosoft. Estes valores foram apresentados pela primeira vez no Congresso da SBNC de 2009.
O estudo do reflexo T pode melhorar a sensibilidade na detecção de radiculopatias sensitivas ou motoras, entre outras aplicações, como o estudo do reflexo massetérico na neuropatia trigeminal.
Nas imagens abaixo, o Dr Sergey Nickolaev mostra como o estudo do componente de flexão bicipital dos reflexos bicipital e braquiorradial permite distinguir radiculopatias sensitivas ou motoras nos níveis C5-C6 ou C7-C8.
Padronização da técnica
Martelo de reflexo T Neurosoft usado para a estimulação (acelerômetro embutido no martelo sincroniza início do sweep ao momento da percussão)
Atenção ao posicionamento de eletrodos para minimizar artefato de estímulo (impacto do martelo de percussão). Fixar o cabo para evitar que os eletrodos oscilem durante o reflexo.
Registro de várias respostas com frequência de estimulação de 1 estimulação a cada 5-10s (0,2-0,1Hz)
A resposta reflexa deve ter latência e morfologia reprodutível no mínimo 3 vezes
Escolher a resposta com menor latência e maior amplitude
Colocação de eletrodos para o Estudo do Reflexo Bicipital (aferência e eferência C5-C6). Não coloque referência no tendão e fixe o cabo!





Reflexo Massetérico
Diferente do reflexo T em membros, onde o corpo celular das fibras fusais aferentes Ia é extra-axial, no gânglio da raiz dorsal, no reflexo massetérico o corpo celular do neurônio da via aferente está no núcleo mesencefálico do trigêmeo e faz sinapse com motoneurônios trigeminais na ponte. É um reflexo monossináptico unilateral de tronco cerebral.
Há grande variabilidade de amplitudes e latências absolutas a cada estímulo na mandíbula, porém o grau de assimetria permanece bastante estável. A interpretação, portato, deve ser baseada na assimetria de latências ou amplitudes com registro simultâneo em 2 canais e percussão na linha média.
Uma assimetria inequívoca sugere acometimento em nervo trigêmeo ou tronco.
O reflexo massetérico também pode ajudar a distinguir axonopatia sensitiva de ganglionopatia. Na ataxia de Friedreich os reflexos em membros estão abolidos pelo acometimento do gânglio da raiz dorsal, porém o reflexo massetérico está normal ou mesmo hiperativo, já que o corpo celular aferente não está situado extra-axialmente, em gânglio, mas no núcleo trigeminal mesencefálico (Kimura, 2013).





No vídeo abaixo nossos colegas na Kandel, Mateus e Kauan, demonstram como usar o software e o martelo eletrônico para aquisição de reflexo T.
Referências:
Frijns, C.J.M., Laman, D.M., Van Duijn, M.A.J., Van Duijn, H., 1997. Normal values of patellar and ankle tendon reflex latencies. Clin. Neurol. Neurosurg. 99, 31–36. https://doi.org/10.1016/S0303-8467(96)00593-8
Karam, D.B., 1977. Tendon reflex latencies in the upper extremity. Arch. Phys. Med. Rehabil. 58, 306–308.
Kimura, J., 2013. Electrodiagnosis in Diseases of Nerve and Muscle: Principles and Practice. Oxford University Press. https://doi.org/10.1093/med/9780199738687.001.0001
“Comparison of the H and T reflexes, therefore, provides an indirect measure of spindle sensitivity controlled by the gamma motor system” (Kimura, 2013, p. 209)
“Mechanical stretch evokes a T reflex in most muscles, including those not readily accessible to the conventional NCS.” (Kimura, 2013, p. 209)
“Tapping the voluntarily contracted erector spinae also evokes a two-component stretch reflex, short-latency R1, considered segmental in origin, and long-latency R2, induced by suprasegmental pathway.” (Kimura, 2013, p. 209) “If so, a normal masseter reflex in patients with pure sensory symptoms favors a diagnosis of ganglionopathy rather than axonal sensory neuropathy” (Kimura, 2013, p. 217)
Kimura, J., Rodnitzky, R.L., Van Allen, M.W., 1970. Electrodiagnostic study of trigeminal nerve: Orbicularis oculi reflex and masseter reflex in trigeminal neuralgia, paratrigeminal syndrome, and other lesions of the trigeminal nerve. Neurology 20, 574–574. https://doi.org/10.1212/WNL.20.6.574
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