A ideia parece tão simples que chega a gerar exclamações do tipo: "se isso funcionasse já teriam descoberto!", mas o longo caminho entre uma ideia e sua demonstração explica a demora.
Slides apresentados no vídeo
Se ajustarmos o tratamento da depressão de acordo com os ritmos cerebrais do alvo de tratamento, a eficácia pode aumentar? Ao invés de aplicar 10Hz em F3 a todos pacientes, que tal ajustar a frequência para o ritmo dominante de F3, dentro da faixa alfa? Isso pode aumentar o sucesso do tratamento?
Não é por mera coincidência que a frequência de estimulação terapêutica mais usada no tratamento da depressão, 10Hz aplicados em córtex pré-frontal à esquerda, está dentro da faixa de frequências em que a atividade elétrica cerebral naturalmente oscila. Desde que Terje Lomo, no final dos anos 60, verificou que a aplicação de pulsos elétricos repetitivos modificava sinapses de maneira persistente, já se procurava adotar ritmos elétricos que imitassem padrões biológicos. Um exemplo foi o trabalho em que Larson e Lynch, os primeiros a testarem o padrão de theta-burst, explicitamente buscavam imitar padrões de disparo de neurônios hipocampais. A influência do estado basal no resultado das "intervenções" é algo bem estabelecido não só no campo da neuromodulação terapêutica como na neurofisiologia cognitiva e na psicologia. Um capítulo bastante didático, que inclui demonstrações desse fenômeno, "State-Dependent Transcranial Magnetic Stimulation (TMS) Protocols)", está nesse livro de 2014, editado por Pascual-Leone e Rotenberg.
Pode parecer além do nosso alcance ajustar o tratamento a toda complexidade individual. Um pequeno passo, no entanto, o simples ajuste de frequências, pode já fazer alguma diferença, e é algo ao alcance de todos que possam fazer um simples registro de EEG antes da primeira sessão terapêutica. Nesse vídeo resumo e comento os trabalhos que sugerem isso.
Referências:
1: Roelofs CL, Krepel N, Corlier J, Carpenter LL, Fitzgerald PB, Daskalakis ZJ, Tendolkar I, Wilson A, Downar J, Bailey NW, Blumberger DM, Vila-Rodriguez F, Leuchter AF, Arns M. Individual alpha frequency proximity associated with repetitive transcranial magnetic stimulation outcome: An independent replication study from the ICON-DB consortium. Clin Neurophysiol. 2021 Feb;132(2):643-649. doi: 10.1016/j.clinph.2020.10.017. Epub 2020 Nov 10. PMID: 33243617. Pubmed
2: Zrenner C, Desideri D, Belardinelli P, Ziemann U. Real-time EEG-defined excitability states determine efficacy of TMS-induced plasticity in human motor cortex. Brain Stimul. 2018 Mar-Apr;11(2):374-389. doi: 10.1016/j.brs.2017.11.016. Epub 2017 Nov 24. PMID: 29191438. Pubmed
3: Zrenner B, Zrenner C, Gordon PC, Belardinelli P, McDermott EJ, Soekadar SR, Fallgatter AJ, Ziemann U, Müller-Dahlhaus F. Brain oscillation-synchronized stimulation of the left dorsolateral prefrontal cortex in depression using real-time EEG-triggered TMS. Brain Stimul. 2020 Jan-Feb;13(1):197-205. doi: 10.1016/j.brs.2019.10.007. Epub 2019 Oct 12. PMID: 31631058. Pubmed
4: EEG Synchronized TMS Trial for Depression. Página em ClinicalTrials.gov
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