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Foto do escritorEdrin Vicente

Estimulação Magnética em distúrbios de assoalho pélvico

Atualizado: 23 de fev. de 2023

Os mecanismos biológicos acionados com estimulação magnética neuromuscular são bastante diversos dos acionados com estimulação cortical. Diferente da neuromodulação cortical, onde a indução de potenciais repetitivos por estimulação elétrica transcraniana é absolutamente inviável, por ser extremamente dolorosa, para alvos neuromusculares há grande abundância de estudos terapêuticos com estimulação elétrica.


Usar indução eletromagnética como ferramenta na reabilitaçao neuromuscular, no entanto, tem vantagens que vão bastante além do maior conforto, com potencial para se obterem resultados muito além dos obtidos com estimulação elétrica.


Um desafio ao navegar pela evidência é filtrar o viés presente em inúmeros estudos promovidos por indústria, particularmente entre os que procuram explorar a técnica como ferramenta puramente estética, para atender a motivações de vaidade, pólo oposto ao que busca atender os que sofrem por limitações impostas por algum déficit neuromuscular.


Se a estimulação magnética periférica é mesmo capaz de promover hipertrofia e melhora funcional de maneira mais eficaz que a elétrica, uma questão realmente bastante interessante, talvez seja mais claro definir buscando evidência, primeiro, no campo da patologia, como fiz nesse breve resumo.


Uma epidemia silenciosa

Muitas mulheres sofrem com escapes de urina intensos e recorrentes desencadeados mesmo por pequenos esforços.


Como a condição tipicamente se instala de maneira insidiosa, ao longo de décadas, o mais comum é que se acomodem usando absorventes ou aumentando as visitas ao banheiro para manter a bexiga sempre vazia, sem tomar ciência de opções de tratamento médico que poderiam melhorar sua qualidade de vida e protegê-las de constrangimentos.


Números da epidemia: Em estudo de 2012 que avaliou mais de 3000 mulheres acima dos 40 anos, 41% apresentavam episódios de incontinência urinária a esforço e em 72% dessas a intensidade e recorrência dos episódios era moderada a severa, mas apenas 25% buscaram cuidados médicos. A prevalência de ao menos 1 distúrbio de assoalho pélvico (incontinência urinária, fecal ou prolapso) aumenta em função de idade, número de partos e obesidade.


Minassian VA, Yan X, Stewart WF et al. The iceberg of health care utilization in women with urinary incontinence. Int Urogynecol J. 2012 Aug;23(8):1087-93. clique aqui Nygaard I, Brody DJ et al. Pelvic Floor Disorders Network. Prevalence of symptomatic pelvic floor disorders in US women. JAMA. 2008 Sep 17. clique aqui


Os tratamentos com mais sucesso envolvem uma combinação de medidas


A incontinência geralmente é fruto de deterioração na função tanto de tecidos musculares como conectivos e, em alguns casos, também da inervação do assoalho pélvico. Mesmo procedimentos cirúrgicos, com técnicas de ancoramento de uretra, modificação de sua angulação, implante de malha de polipropileno ou injeção de agente que produz volume no trajeto(como ácido hialurônico), tem taxas de sucesso variável, desde apenas 24.8% (injeção de agente de volume "clique aqui") até ao redor de 82.3% (cirurgias como a TVT "clique aqui" ), e mesmo o sucesso do tratamento cirúrgico em parte pode ser fruto da combinação do tratamento cirúrgico com outra abordagem.

"Complete resolution of SUI may not be feasible, and a combination of behavioral, pharmacological, and surgical treatment may be necessary" Clique aqui


Tratamento cirúrgico Via abdominal: Marshall Marchetti Krantz ou Burch (John Christopher Burch). Via vaginal: Pereyra modificada (Armand Joseph Pereyra), TVT e TVT-O.


Tratamento não-cirúrgico

Exercícios de fortalecimento de assoalho pélvico: exercícios de Kegel, exercícios supervisionados por especialista em reabilitação ou exercícios guiados por biofeedback.

Estratégias comportamentais, uso de pessários vaginais.

Medicações anticolinérgicas (como oxibutinina) ou com efeitos alfaadrenérgicos (tricíclicos).


Neuromodulação elétrica: aplicação por agulhas semelhantes às de acupuntura em assoalho pélvico.


Neuromodulação magnética: aplicação por bobina circular refrigerada, através da roupa.



Neuromodulação magnética de assoalho pélvico é aprovada pelo FDA desde 1998


Em 1998, o FDA concedeu a primeira aprovação a um dispositivo de estimulação magnética para reabilitação de assoalho pélvico e considerou também o método como primeira escolha, quando comparado à estimulação elétrica.


A aprovação foi baseada em estudo onde pacientes foram tratados tanto de forma invasiva (com estimulação elétrica aplicada por meio de agulhas na musculatura pélvica) como de forma não-invasiva (com estimulação de assoalho pélvico por pulsos magnéticos aplicados através da roupa).


Além do maior conforto e aceitação dos pacientes, com estimulação magnética se obteve contração maior de esfíncter uretral. Clique aqui



Parâmetros de tratamento mais eficazes Em meta-análise publicada em 2021, que avaliou 6 diferentes estudos placebo controlados, o sucesso da estimulação magnética no tratamento da incontinência urinária de esforço variou ao redor de 50 a 70%, com maior eficácia entre os tratados com frequências de 20 a 50Hz e menor eficácia entre os tratados na faixa de 5 a 15Hz. No maior desses estudos (Lim 2017), que acompanhou 120 pacientes ao longo de 1 ano, no grupo tratado com 2 sessões semanais por 2 meses, melhora na incontinência se manteve em 72% após 1 ano de acompanhamento (versus 21% para o grupo placebo, p<0.001).

Parâmetros de tratamento de Lim 2017. 2 sessões de 20 minutos por semana por 2 meses, na intensidade máxima tolerada pelo paciente, com bobina circular refrigerada sobre o assoalho pélvico.



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